CEF não é caso isolado. Dados do INSS mostram que a categoria bancária está entre as que mais adoecem e afastam trabalhadores
Uma pesquisa inédita encomendada pela Federação Nacional dos Associados da Caixa Econômica (Fenae) revelou dados preocupantes: um em cada três trabalhadores tiveram algum problema de saúde relacionado ao trabalho nos últimos 12 meses. Entre os que tiveram algum problema, 10,6% relataram depressão, 60,5% estresse e doenças psicológicas. 53% deles precisaram recorrer a algum medicamento e os mais usados foram os antidepressivos e ansiolíticos (35,3%), anti-inflamatórios (14,3%) e analgésicos (7,6%).
O estudo só comprova o que o Sindicato vem debatendo há anos: o fim da sobrecarga de trabalho e do assédio moral e a criação de um novo modelo de gestão das instituições financeiras já que os bancos são responsáveis por 5,73% do total de gastos com auxílios entre 2012 e 2017, de acordo com os dados do INSS, seguido pelos setores de Transporte rodoviário de carga com 4,04%, Administração Pública em Geral com 3,81%, Construção de edifícios com 3,77%, etc.
“Cada vez mais a sanha por produtividade vem absorvendo a saúde dos trabalhadores e nos bancos isso se dá de uma forma quase imperceptível pela população e pelos próprios empregados, na Caixa nos últimos anos um processo de precarização acelerada das condições de trabalho vem deixando os ambientes mais adoecedores” afirma Dionísio Reis Siqueira diretor da Fenae e do Sindicato, que além de coordenar a comissão executiva dos empregados da Caixa tem militância em saúde do trabalhador.
O diretor comenta ainda que saúde do trabalhador e condições de trabalho vem sendo discutido a exaustão com o banco, pois as 15 mil demissões e a guinada privatista acaba sobrecarregando e dando margem para a cobrança abusiva de metas que adoecem os empregados. E isso foi comprovado com a pesquisa. A Fenae já forneceu o material à Comissão de Executiva de Empregados da Caixa (CEE/Caixa) para que seja mais um argumento na mesa de negociação permanente.
O diretor destaca também que esse assunto não é novidade e a saúde do trabalhador é alvo de pelo menos três comissões específicas como os fóruns regionais de condições de trabalho, o fórum Nacional e o GT de saúde do trabalhador e destaca que nesse momento de resistência dos empregados todo subsídio é arma na mesa de negociação.
“A disputa de uma organização do trabalho que ocorre em todos os locais e na qual os trabalhadores estão em desvantagem, muitas vezes por necessidade financeira, fazem com que eles se adaptem a ambientes inadequados dentro da instituição. Eles têm sua força de trabalho, seus sonhos e esperança alugados, e acabam trabalhando em muitas situações como se nada ocorresse, sem perceber ao menos que devem se tratar, até que fiquem profundamente prejudicados e adoecidos”, alerta o dirigente.
Subnotificação e negligência
A pesquisa também revelou outros dados alarmantes. Quase 8% dos entrevistados disseram já ter entrado em licença médica por problemas de saúde mental. Em média, esses empregados ficaram 125 dias afastados.
Os casos não formalizados junto à Caixa, porém, são a maioria. Apenas 4,4% dos que tiveram algum problema de saúde relatam que a Caixa emitiu Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Entre os que entraram de licença por problemas de saúde mental, somente 13,6% tiveram emissão de CAT pela Caixa.
Sobrecarga e estresse laboral
O modelo de gestão do banco foi apontado na pesquisa como uma das principais causas do adoecimento dos empregados. 58% dos trabalhadores disseram estar sobrecarregados, 16,3% alegaram que o problema é a falta de pessoal, 16% informaram que têm problemas com a cobrança excessiva por metas e 15% dos empregados relataram que fazem horas extras com frequência, principalmente os mais jovens e os que trabalham em agências.
26,3% dos empregados responderam que tem nível de estresse entre 7 e 10 e ainda, 27,1% dos entrevistados relataram que o trabalho atrapalha a vida pessoal também em um nível entre 7 e 10.
Desgaste nas agências
Por conta da falta de pessoal, a pesquisa revelou que os empregados que trabalham nas agências apresentam mais problemas de saúde que os de áreas meio. Os que trabalham na parte administrativa, 26,5% tiveram problemas de saúde relacionados ao trabalho nos últimos 12 meses enquanto os de agência, 36,4%.
“Além do adoecimento temos percebido que o banco vem economizando na gestão de pessoas e na saúde do trabalhador, não notificando através de CAT, isso ocorre para que economizem com imposto previdenciário. Ainda temos denúncias de homologação de atestados com recusa de afastamentos, o que vai contra o que preconiza o código de ética médico e abandona os empregados no momento em que mais precisam”, denúncia Dionísio.
A subnotificação também é maior nas agências, onde a emissão de CAT só ocorreu em 3,5% dos casos. Já nas áreas meio, os comunicados foram emitidos em 6,8% das situações.
O sofrimento com a sobrecarga também varia conforme a unidade de trabalho. Evidência disso é que 41,2% dos que trabalham em áreas meio e 66,2% dos que atuam em agências disseram estar sobrecarregados.
Assédio moral
O resultado do estudo também mostra o aparecimento de assédio moral institucional. Ao todo, 86,5% dos empregados avaliam positivamente a relação com seus chefes imediatos, porém 27,2 reclamam de pressão excessiva por metas.
Dentre os entrevistados, 53,6% disseram ter passado por algum caso de assédio moral e citaram episódios que se referiram a demanda excessiva de trabalho, pressão, atribuição indevida de erros, ameaças, gritos, entre outras, e 81,3% deles disseram ter presenciado essas situações com os colegas.
A pesquisa ainda mostrou que desses casos somente 3,1% foram registrados junto ao departamento de Recursos Humanos.
Assédio sexual
A pesquisa também mostra que aproximadamente 6% dos empregados tiveram conhecimento de situações de assédio sexual.
O Centro-Oeste se destaca como a região onde os empregados mais tiveram conhecimento desse tipo de violência na Caixa, com 10,7%. Em seguida, a região Nordeste (6,8%), Sudeste (5,4%), Norte (3,5%) e Sul (3,2%). O grau de conhecimento de episódios de suicídio também é maior no Centro-Oeste e nas áreas meio.
Entre os entrevistados, 46,9% tiveram conhecimento de algum episódio entre empregados da Caixa. Mais da metade (51,7%) dos entrevistados conhece colegas que passaram por sofrimento contínuo em virtude do trabalho.
Política de gestão x ambiente de trabalho
Aproximadamente 4 em cada 10 funcionários se dizem pouco ou nada informados sobre a política de controle de produção por meritocracia implementada pela Caixa em 2014, o GDP – Gestão de Desempenho de Pessoas. O plano de metas é considerado desafiador e estimulante para 42,6% dos empregados e é visto como abusivo e prejudicial por outros 42,5%.
A percepção de que o ambiente de trabalho piorou com o GDP é significativamente maior que a percepção de melhora. Para 37,3%, o ambiente de trabalho piorou ou piorou muito com a política, enquanto 15,9% disseram que ficou melhor ou muito melhor.
Para os empregados, a política de gestão de desempenho estimula o individualismo, o conflito entre chefia e empregado e também entre colegas, além de propiciar situações para casos de assédio moral.
“O fim do GDP, do descomissionanento arbitrário e o combate ao assédio são bandeiras de luta. Hoje temos a conquista de fóruns regionais de condições de trabalho, o fórum Nacional e o GT de saúde do trabalhador onde devemos buscar a solução desses pontos que afligem a saúde dos empregados, e quando não são solucionados temos ainda outras formas de fazer valer os direitos fundamentais a saúde e a vida dos trabalhadores da Caixa” salienta Dionísio Reis.
A pesquisa, realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, ouviu dois mil empregados da Caixa entre os dias 2 e 30 de maio. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.
Confira os dados completos da pesquisa.
Fonte:SPBancarios

