Brito desmascara a hipocrisia do Janot

Para se defender, ele esculhamba Gilmar na caverna nos poderosos

Conversa Afiada reproduz irretocável artigo de Fernando Brito sobre aquele que deixou Eduardo Cunha solto até que derrubasse a Dilma e levou mais tempo para ir à Furnas do Mineirinho do que Moisés levou para atravessar o deserto.

Ao mestre Fernando Brito:

Dr Janot, os tiranos desqualificam seus críticos, ditadores atacam seus críticos

O Dr Rodrigo Janot teve hoje uma catarse, na abertura de um seminário promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público

Disse, segundo O Globo:

— Há pessoas que acusam o Ministério Público e a Lava-Jato de abuso. Afirmam que o Brasil está se tornando um estado policial, um estado de exceção. Só dois tipos de pessoas adotam e acolhem esse tipo de discurso. Os primeiros, nunca viveram em uma ditadura, eu vivi. Não conhecem, por experiência própria, o que representa vida sem liberdade. Militam, portanto, na ignorância. Para esses, o esclarecimento dos fatos é mais do que suficiente. Mas há também aqueles que operam no engodo, os que não tem compromisso verdadeiro com o país. A real preocupação dessas pessoas é com a casta privilegiada da qual fazem parte. Empunham a bandeira do Estado de Direito, que vergonha, mas desejam defender os amigos poderosos com os quais se refestelam nas regalias do poder. Para essas figuras não há esclarecimento suficiente, porque a luz os ofusca, fogem da verdade com pavor dos que vivem no embuste. Escondem-se nas cavernas sombrias de seus mesquinhos interesses.

Viveu a ditadura, Dr. Janot?

Sou da sua geração, a vivi também. E ela moldou meu juízo, fez-me odiar o arbítrio, a prisão, a condenação sem provas, a alcaguetagem.

Sabe, Doutor, mesmo sem provas, tinham a convicção que eu era um elemento subversivo.

Não tive a sorte de conhecer a valentia do Ministério Público – sim, ele existia, não é? – quando gente era presa na escuridão, sequestrada, torturada, morta…

O Ministério Público não nasceu na Constituição de 1988, que lhe dá os poderes que agora tem. Vem de antes, mas não vejo a crítica necessária ao papel sabujo que teve. Isso, embora os senhores sempre lembrem que os admitidos antes dela possam advogar para privados.

Não faço parte de “uma casta privilegiada” como é o Ministério Público, ganhando polpudos vencimentos, acrescidos de penduricalhos, auxílios isso e aquilo que não despertam sua indignação republicana e igualitária. Vivo – e o senhor pode acionar seus mecanismos de espionagem para verificar – do Google e das contribuições dos leitores.

Mas não sou hipócrita, como o senhor, que descobriu, já quase na sexta década da vida, que a política tem o dinheiro como combustível, queira-se ou não. A política, aquela que o levou, com os amigos que agora rejeita, ao cargo que tem.

O senhor diz, tonitruante:

– Basta de hipocrisia. Não há mais espaço para a apatia, ou caminhamos juntos contra essa vilania que abastarda a política ou estaremos condenados a uma eterna cidadania de segunda classe servil e impotente contra aqueles que deveriam nos representar com lealdade.

Ela começou ontem, Dr. Janot, a vilania na política?

Eu tenho mais tempo de vida pública que o senhor e, ao contrário do senhor, nenhuma estabilidade ou vitaliciedade. Certo, não fui ungido por um concurso público. Não posso quebrar seu sigilo bancário, embora o senhor possa quebrar o meu.

Não tenho medo por mim, Doutor, mas tenho medo quando vejo alguém, como o senhor, se erigindo em moralista universal.

Os pecados de seu Ministério Público, nestas três décadas em que tudo pôde e nada fez, não podem ser, simplesmente, esquecidos.

As instituições são dinâmicas e nem sempre o que aconteceu no passado devem condená-las ad eternum.

E a disputa do poder não é, senão nas mentes miúdas, uma disputa do riquezas e vantagens, cargos e posições.

E se a ira santa contra o que o senhor viu, quieto, durante três décadas e agora torna emblema, não é possível esquecer a pusilanimidade com que deixou de agir em defesa da única legitimidade democrática, a do voto, quando ela precisou da coragem da qual agora o senhor finge ostentar?

É porque sua valentia se dá sob o pálio da Globo, sem a qual o senhor estaria reduzido à estatura moral que de fato tem.

Fonte: Conversa Afiada

 

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