Fernando Rugistsky, da USP, aponta que crise fiscal, usada pelo governo para justificar nova política econômica, é “artificial”. Índice de desemprego para o mês de junho é o pior desde 2010.
O IBGE lançou nessa quinta-feira (23) os mais recentes números sobre o desemprego nas seis regiões metropolitanas do Brasil. Apesar de permanecer estável de maio (6,7%) para junho (6,9%) chama atenção o aumento em comparação ao mesmo mês do ano passado, quando o índice era de 4,8%. É o pior índice para o mês desde 2010.
Desde que a equipe econômica da presidenta Dilma assumiu, no começo deste ano, o índice tem mostrado sensíveis pioras com o passar dos meses depois de atingir 4,3% em dezembro de 2014. Para tentar estancar esse aumento generalizado no desemprego, governo e centrais sindicais se reuniram para criar a Política de Proteção de Empregos, o que gerou muitas críticas.
O economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Daniel Feldmann, vê a medida com desconfiança e aponta que ela trará um efeito restrito e provisório podendo, no futuro, significar redução ainda maior dos salários. Ele também acredita que a situação econômica ainda vai piorar.
“Os empresários não investem, as famílias não consomem e o governo que, em tese, poderia fazer um contraponto anti-cíclico, joga mais lenha na fogueira. Com a demanda caindo em todos os segmentos, não apenas o desemprego tende a se agravar como também os salários tendem a serem reduzidos, dada a concorrência intensificada no mercado de trabalho”, apontou.
Meta fiscal
Na noite desta quarta-feira (22), o ministro da Fazenda Joaquim Levy e o do Desenvolvimento, Nelson Barbosa, vieram a público para anunciar a revisão da meta do superavit primário, dinheiro usado para pagar os juros da dívida, de 1,1% para 0,15% do PIB. Além disso, novos cortes que podem atingir R$ 10 bilhões também foram anunciados.
O professor do departamento de economia da FEA-USP Fernando Rugitsky, analisou que o anúncio nada mais foi que uma admissão de erro da equipe econômica do governo, que identificou que não seria possível cumprir a meta. “Essa política derruba a economia e a arrecadação tributária, tornando a meta mais difícil de ser alcançada”, explicou.
“O problema é político”
Em um dos primeiros dias de seu segundo governo, Dilma Rousseff precisou dar um recado ao mercado: o Brasil precisava organizar as suas contas públicas. Pra isso, mudou o rumo de sua equipe econômica e substituiu Guido Mantega pelo ex-funcionário do Bradesco Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.
Fernando, no entanto, alerta que a situação fiscal brasileira não é tão ruim quanto o mercado quer passar e que o debate é muito mais voltado para uma questão política, em que a elite pressiona o governo a tomar medidas de austeridade.
“O ajuste dos setores dominantes do Brasil se preocupa menos com o superávit e mais em reduzir os salários e aumentar a margem de lucro. Eles fazem isso por dois motivos: um é que as medidas redistributivas de renda foram fortalecidas nos últimos 12 anos, e isso gera uma pressão de setores da elite, por criar, de tempos em tempos, crises fiscais artificiais justamente para rever essa concessão de benefícios e cortar a amplitude dessas políticas. O outro é estancar o aumento real dos salários que vinha sendo observado no Brasil nos últimos 10 anos. Enquanto esses interesses não forem derrotados politicamente, qualquer outra medida será paliativa pra compensar a política estrutural”, finalizou.
Fonte: Carta Capital
