Dia Internacional de Combate às LER/Dort

O Dia Internacional de Combate às Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) é comemorado no último dia do mês de fevereiro desde 2000; neste ano, dia 28.

Em 2019, 39 mil trabalhadores foram afastados do trabalho devido a esse tipo de adoecimento, segundo a Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho).

Os trabalhadores portadores de LER/DORT sofrem com dores crônicas, formigamento e fadiga. Para a médica e pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, em entrevista divulgada no site da instituição, “A organização do trabalho que obriga os trabalhadores se esforçarem além do que eles podem – tanto do ponto de vista físico quanto psíquico – faz com que eles adoeçam”.

A médica e pesquisadora destaca que a prevenção é importante. “É fundamental que as relações de trabalho sejam dignas e que os trabalhadores possam desenvolver as suas atividades de forma efetiva, útil e relações boas com a chefia e com os colegas de trabalho”.

– Mensagem da pesquisadora Maria Maeno sobre LER/Dort

Meu nome é Maria Maeno. Sou médica e pesquisadora em Saúde do Trabalhador.  Os bancários mais jovens não viveram um período muito especial da história da saúde do trabalhador. Os mais antigos vão se lembrar do que vou falar aqui.

Lá pelos anos de 1980, trabalhadores de muitos setores econômicos, entre eles, bancários, montadores de componentes eletrônicos, digitadores, etc passaram  a se queixar de dores nos membros superiores que os ortopedistas diagnosticavam como tendinites  ou tenossinovites de ombros, punhos, cotovelos, síndrome do túnel do carpo, síndrome miofascial, entre outras afecções do sistema musculoesquelético.

As empresas, entre elas, os bancos queriam convencer a todos de que aquelas dores crônicas aconteciam porque os bancários abusavam e não seguiam as orientações para sentar corretamente ou posicionar seus braços corretamente.

Os sindicatos, juntamente com profissionais que estudavam os processos de trabalho e atendiam os trabalhadores, não concordaram com essa versão das empresas e buscaram evidências que mostravam que o que causava todas aquelas dores incapacitantes era um conjunto de características do trabalho. No caso dos bancos, havia muitas atividades como digitação, compensação de cheques, contagem manual de numerários que exigiam a execução de movimentos muito rápidos dos dedos, que obrigavam os bancários a ficarem em posição desconfortável por tempo  prolongado e todos tinham que trabalhar intensamente, sob forte pressão para dar conta do volume de trabalho. Já havia muita literatura a respeito, principalmente fora do Brasil. Nós sabíamos que as dores eram relacionadas à sobrecarga física, em especial do sistema musculoesquelético, e à sobrecarga psíquica das pessoas que trabalhavam cada vez mais rápido, sem pausas e sem tempo para recuperação do desgaste que o processo de trabalho provocava.

Após articulações entre a academia, sindicatos e serviços de saúde, discussões e muita pressão, o Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência Social reconheceram que, de fato, as tendinites e outros quadros eram relacionados ao trabalho e no Brasil convencionou-se chamar o conjunto desses quadros clínicos de Lesões por Esforços Repetitivo ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT).

Pelo fato de haver uma alta prevalência dessas doenças entre algumas categorias, entre as quais os bancários, sempre que um bancário tiver uma tendinite ou tenossinovite, ou outra afecção musculoesquelética, o INSS deve considerar o caso como relacionado ao trabalho. Trata-se o princípio de inversão do ônus da prova. Foi o reconhecimento de que várias categorias de trabalhadores têm endemicamente determinadas doenças relacionadas ao seu trabalho.

Nos últimos anos, pelas mudanças da organização do trabalho observou-se relativa diminuição de casos novos paralelamente  a um aumento de casos de doenças psíquicas relacionadas a um sistema de metas acoplado à avaliação de desempenho individual.

No contexto de pandemia, o home office se ampliou muito no sistema bancário, o que protege os bancários do vírus. No entanto, voltamos a ouvir de muitos que além das metas crescentes, que continuam a vigorar e jornadas sem limites, enfrentam espaços domiciliares apertados, mobiliário e equipamentos inadequados, problemas de sistemas informatizados e internet ruim. Além do agravamento de alterações de sono, episódios depressivos, crises de ansiedade, exaustão, as pessoas passaram a se queixar de dores nos membros superiores e coluna.

Embora o mundo do trabalho seja muito diferente das décadas de 80 e 90, a luta organizada e coletiva é a única saída real para os que vivem do trabalho. Não há  saídas individuais. Nesse sentido, os sindicatos devem mais do que nunca ser valorizados como um instrumento de luta e construção de um mundo do trabalho que leve em conta o ser humano e seu bem estar intergeracional.

Maria Maeno, médica e pesquisadora em Saúde do Trabalhador

Fonte: Movimento Sindical

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