Marcha das Margaridas e das mulheres indígenas ocupa Brasília

Mulheres do campo, da floresta, das águas, indígenas e quilombolas caminham juntas pela Esplanada

“Olha Brasília, está florida. Estão chegando as decididas”, cantam as vozes de milhares de Margaridas reunidas no início da manhã. A Marcha das Margaridas ocupa as ruas da capital federal desde ontem e, nesta quarta-feira 14, caminha pelo chamado Eixo Monumental.

As marchas das Margaridas, em sua sexta edição, e das Mulheres Indígenas, em sua primeira, se encontraram por volta das 9h e seguiram do Parque da Cidade até a Praça dos Três Poderes em caminhada para o ato final diante do Congresso Nacional.

A secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro, lembra das diferentes pautas que as trabalhadoras levam às ruas nesta quarta, e alerta para a aprovação da MP 881 na Câmara.

“Hoje Brasília está florida com as Margaridas marchando por soberania popular, por agroecologia, em defesda da terra, das águas e do trabalho, para defender os nossos direitos. Ontem a Câmara dos Deputados aprovou a MP 881 que, entre outras coisas, permite o trabalho aos sábados e domingos. Nós, bancários, vamos ser muito prejudicados porque ekes vão querer abrir as agências aos sábados e isso coloca mais uma luta para a gente fazer”, comentou.

Força de gerações

Josefa Rita da Silva, a Zefinha, tem 73 anos de idade e participou de todas as seis edições da Marcha das Margaridas. Com a vida dedicada à luta por direitos, já perdeu as contas de quando começou a atuar no movimento sindical. Hoje agricultora familiar aposentada, diz que a primeira Marcha foi a mais difícil em função da repressão, mas também foi a que teve mais força e empenho das participantes. E deve ser exemplo para o ano de 2019.

“A primeira Marcha é o espelho que precisamos ter nessa. Precisamos chamar o povo para o enfrentamento no Brasil, os nossos direitos estão descendo no esgoto. Estão cortando no mais pobre, que é o trabalhador rural.” Sem rodeios, Zefinha manda um recado às mulheres do país: “Não esmoreça, não desista. Enfrente o desafio com coragem porque nem Cristo morreu de braços cruzados. É melhor morrer na luta do que morrer de fome”.

Bem mais nova que Zefinha, a secretária de Juventude da Contag, Mônica Bufon Augusto, de 28 anos, destaca a grande presença de mulheres jovens na Marcha, dispostas a permanecer no campo, mas com qualidade de vida. “A juventude tá em massa aqui na Marcha, principalmente nesse momento tão desafiador pelo qual estamos passando, com a grande retirada de direitos da classe trabalhadora, que vem afetando muito a juventude.”

Mônica se mostra preocupada com o futuro dos jovens no campo, se não houver políticas que incentivem a permanência e possibilitem uma vida digna. “Se não conseguirmos política públicas para manter a juventude no campo, com  a perspectiva de que o campo é um lugar de vida, daqui 20 ou 30 anos podemos ter um campo muito esvaziado.”

MP da “liberdade econômica”

O pretexto da medida é novamente aquecer a economia e gerar emprego e renda. “O mesmo argumento usado para a aprovação da reforma trabalhista que, quase dois anos depois, não gerou empregos, mas aumenta a informalidade e os postos de trabalho precários. É também a mesma mentira usada para ‘vender’ à população a necessidade de uma reforma da Previdência, que se aprovada vai fazer com que o brasileiro trabalhe mais tempo, para receber uma aposentadoria menor, isso se conseguir se aposentar”, critica Ivone.

Retrocesso

Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, a medida fará o Brasil retroceder ainda mais em direitos trabalhistas. Em comentário ao Jornal Brasil Atual (da Rádio Brasil Atual), ele destaca que a MP aumenta a “liberdade econômica” da empresa em impor as suas próprias regras e tira poder dos sindicatos, deixando o trabalhador desprotegido.

“A regra é muito ruim, porque tira o sindicato da regulação, e dá às empresas total autonomia para fazer do jeito que quiserem. Eu acho que é uma regressão”, criticou Clemente.

Outro ponto polêmico da MP prevê que o trabalhador não precisará registrar as horas trabalhadas, devendo fazer apenas o registro das horas extras trabalhadas, mediante solicitação. “O trabalhador deverá solicitar a empresa que quer registrar a hora extra. O que indica a intenção de receber”, destaca Clemente.

“Isso poderá criar situação de constrangimento, principalmente em momentos de alta do desemprego, no qual a empresa poderá exercer algum tipo de coerção. É um claro mecanismo para inibir o pagamento das horas extras, e facilitar às empresas essa burla em relação ao pagamento das horas adicionais.”

“Há uma série de mudanças, algumas delas facilitando a constituição e organização das empresas, outras facilitam a burla ou descumprimento de uma regra ou norma por parte das empresas, diminuindo a capacidade do Estado de atuar em relação a essas práticas que muitas vezes fraudam a legislação e atingem os trabalhadores”, completa o diretor do Dieese.

Fonte: Rede Brasil Atual

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