O Ato em Brasília visto do lado de cá

Após ver e ouvir sobre notícias veiculadas pela Tv Globo e outros meios de comunicação sobre os protestos ocorridos em Brasília no dia 24 de Maio de 2017, senti enorme obrigação de relatar o que vi e vivi durante o protesto dessa quarta feira na cidade do poder.

Para começar, centenas de ônibus com pessoas de todo o Brasil chegaram na cidade desde as primeiras horas da manhã. Quando iniciamos a passeata, por volta de 12 horas, já éramos mais de 100 mil pessoas e não estou fazendo cálculos otimistas. A passeata seguiu pacífica pela principal avenida de Brasília que levava até ao Planalto. 

O ato contou com a participação de mulheres, sua maioria, homens, crianças, jovens e idosos. A polícia montou uma barreira a cerca de 2 km do Planalto para revistar os manifestantes. Em determinado momento, cerca de 14hs, o enorme fluxo de manifestantes rompeu o primeiro cordão de isolamento da PM. Na prática, a revista dos mais de 100 mil participantes inviabilizaria o próprio Ato. Os primeiros caminhões de som avançaram junto com os manifestantes sob bombas de gás, tiros de armas de fogo, tiros de balas de borracha. Nesse momento e apenas nesse momento, alguns manifestantes responderam com paus, pedras e o que tinham em mãos para se defender.

Os manifestantes que se aproximaram do Planalto foram recebidos por bombas pela PM. Mesmo sem manifestar qualquer intenção de avançar sobre as grades postas enfrente ao Congresso, a polícia recebeu os manifestantes, indiscriminadamente, com bombas de gás de pimenta, tiros de borracha, tiros de armas de fogo, bombas de efeito moral etc… Um helicóptero da PM lançava bombas de gás de pimenta sobre os manifestantes, enquanto fazia voos rasantes sobre a multidão. Assustados, dezenas de milhares de pessoas recuaram a uma distância de 1km da barreira montada pela PM.

No momento em que a polícia massacrava os participantes da manifestação, os meios de comunicação, como a TV Globo retirou o seu Globocop do ar, e só se viam dois helicópteros da PM. Dezenas de pessoas foram feridas. O socorro demorava imensamente ou estrategicamente a chegar. O governo proibiu a venda de água pelos ambulantes. Uma senhora foi baleada por arma de fogo próximo ao lugar em que estávamos. A imprensa nos julgou como vândalos, entretanto, não procuraram saber quem eram os feridos e se entre eles havia mulheres e crianças, o que seguramente demonstraria de quem é que partiu realmente a violência. Além disso, o Governo Federal proibiu a venda de água no local dos protestos.

Sob bombas e gás de pimenta, dirigentes sindicais e alguns parlamentares de oposição ao governo, se revezavam nos caminhões de som e imploravam para a PM que não atacasse a manifestação, composta em sua maioria por trabalhadoras e trabalhadores. Diversas pessoas procuravam registrar a truculência da PM e divulgaram em suas redes sociais. Nós também fizemos o mesmo e tivemos que ser interrompidos, dado o risco que passamos a correr.

Diante da violência generalizada imposta pela PM, alguns de nós avançaram sob os Ministérios e expuseram por meio da depredação sua insatisfação. Não existem dúvidas de que o protesto foi um ato pacífico, ao menos de nossa parte. Se os mais de 100 mil que lá estavam estivessem dispostos à violência, nada e eu afirmo nada, restaria do Planalto ou dentro dele.

Que o sangue daqueles que estiveram na frente dessa batalha não tenha sido derramado em vão. Que nós, sindicatos e movimentos sociais, não viremos às costas para aqueles que a coragem dos atos foi além de nossos discursos. Dona “Maria” que levou tiro, seu “José” que teve um ataque de asma do meu lado e adolescente “Brisa” que ajoelhada se recuperava do gás de pimenta lançado pelos PMs é por vocês e com vocês que vou continuar a lutar.

Não podemos permitir que nenhum veículo de comunicação (TV Globo) ou quem quer que seja construa sua versão sobre nós. Nós temos voz e nossa voz grita Fora Temer! Nossa voz grita contra a reforma trabalhista e da previdência. Nossa voz grita por Diretas Já! Nossa voz grita por um governo legítimo e democrático. Nossa voz grita por nenhum direito a menos, por um país de paz e justiça social.

Juvenal Lima Gomes diretor do Sindicato dos Professores de Minas Gerais

Fonte: SINPRO/PN

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