O banqueiro do metralha

O economista Paulo Guedes, um dos fundadores do banco BTG Pactual, do qual se desligou há algum tempo, parece se preparar física e moralmente para participar de uma maratona, ou seja, as eleições de outubro deste ano. Será um embate decisivo marcado pelo golpe que derrubou, em 2016, a presidenta Dilma Rousseff, eleita em 2014.

Recentemente, Guedes, figura conhecida no mundo econômico e empresarial, passou a caminhar pelas manhãs, quase diariamente, no calçadão entre o Leblon e Ipanema, na Zona Sul carioca. Muitas vezes enfrenta o sol escaldante do verão na marcha de insensatez rumo ao pleito.

Como se sabe, ele “adotou” a candidatura do deputado Jair Bolsonaro, de 62 anos, capitão aposentado do Exército, e pretende conferir a este as tinturas de expressão do neoliberalismo. Resta ver como seria possível adaptar ao papel este belicoso militar-parlamentar, que já trocou oito vezes a camisa partidária. Em 2016, filiou-se ao PSC e já anuncia a intenção de também abandonar o partido.

Guedes é um dos criadores do Instituto Millenium, o mais influente laboratório do pensamento conservador no Brasil. Pela primeira vez incursiona diretamente pela política. De um salto, assumiu o papel de orientador do desorientado parlamentar. Chega a ser um mistério a aproximação entre essas duas figuras.

Ambos contam com uma suposta vantagem, a ausência de Lula na competição. Sem ele, o escolhido de Guedes assume a liderança nas pesquisas de intenção de voto. A distância da eleição põe dúvidas, entretanto, nas chances reais de Bolsonaro, embora tenha alcançado a posição de participar do segundo turno. Ele cresceu e estancou. Quem sabe como estará a cabeça do eleitor em outubro?

Guedes tem uma missão difícil. Sabe que precisará de fôlego, muito fôlego, para levar Bolsonaro à renúncia de palavrões e sandices, e forçá-lo a entender o mundo além dos quartéis. Recentemente, Guedes organizou um encontro de Bolsonaro com empresários e banqueiros, em evento realizado pelo BTG Pactual.

O banco sofreu um impacto em 2015, quando a Polícia Federal bateu à porta e prendeuAndré Esteves, até então presidente-executivo da instituição. Acusado pela Procuradoria–Geral da República de tentar obstruir a Justiça, teve a prisão revogada em 2016. Mas o banco acaba de sofrer mais um impacto surpreendente, de outra dimensão.

Testemunhas oculares disseram que, naquele convescote, o bloqueio à candidatura do ex-presidente Lula era considerado um trunfo inigualável. Mas não esconderam o momento decisivo do desempenho do convidado de honra.

Consta que, instigado a falar sobre como resolveria a violência no Rio de Janeiro, explicou: inicialmente, jogaria milhares de prospectos sobre a visada comunidade da Rocinha, exigindo a saída dos traficantes da comunidade.

A plateia, curiosa, quis saber o que faria se estes não saíssem? Metralharia a favela para resolver o conflito entre traficantes rivais. A plateia aplaudiu freneticamente, não se sabe se sentada ou de pé.

A proposta do candidato de Guedes causou alvoroço, e Bolsonaro tentou amansar o rompante que tanto alegrou a plateia do BTG Pactual. Pior a emenda que o soneto.

Fonte: Carta Capital

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