Provisões contra devedores duvidosos: Queda de lucros e dividendos dos Bancos

A crise provocada pelo coronavírus já mostrou seus sinais nos grandes bancos brasileiros. O lucro combinado de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander somou R$ 11,518 bilhões no primeiro trimestre, apontando uma rara queda de 30,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.

A decisão de aumentar as reservas contra uma iminente escalada da inadimplência foi o fator que mais pressionou o resultado, embora não tenha sido o único. Indicativas do risco do crédito, as despesas líquidas com Provisões contra Devedores Duvidosos (PDD) dispararam, aumentando 96,7%, para R$ 20,219 bilhões. Encontraram um cenário de receitas já pressionadas pelo teto do juro do cheque especial e aumento da competição com mais bancos e fintechs.

A crise veio em um momento em que o crédito buscava recuperação. O estoque de empréstimos e financiamentos dos maiores bancos privados alcançou R$ 1,888 trilhão no fim de março, alta de 7,12% em relação a dezembro e de 18,44% quando comparado a igual mês do ano passado.

Pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas impulsionaram as operações de janeiro até a primeira metade de março. A última quinzena, entretanto, foi marcada pela corrida das grandes empresas aos bancos em busca de liquidez.

O início da temporada de balanços mostrou também uma diferença de visão entre os bancos sobre o tratamento das provisões para enfrentar a crise econômica. Enquanto o Bradesco elevou suas despesas com PDD em 86,1% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, no Santander essa alta foi de 19,2%, inferior à variação da carteira de crédito no período.

A instituição comandada por Sérgio Rial, que já vinha reforçando suas reservas no ano passado, optou por esperar para ter mais visibilidade sobre a crise antes de fazer um aumento mais pesado agora. Já o banco da Cidade de Deus, que vinha acelerando no crédito, preferiu fazer no primeiro trimestre um forte aumento nas provisões complementares à espera de uma deterioração do ambiente econômico. O Itaú, que divulgou o balanço ontem à noite, foi ainda mais conservador. No maior banco privado do país, o custo do crédito subiu 165,2%, para R$ 10,087 bilhões, refletindo principalmente a alta nas provisões contra calotes.

O lucro líquido recorrente do Itaú ficou em R$ 3,912 bilhões no primeiro trimestre de 2020, uma queda de 43,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro contábil foi de R$ 3,401 bilhões, redução de 49,3% na mesma base de comparação.

Candido Bracher, presidente do banco, disse em nota que o incremento “significativo” dos níveis de provisões foi feito para apoiar o cliente durante a crise e no processo de recuperação da economia, provavelmente, longo.

A carteira de crédito expandida do Itaú alcançou R$ 769,216 bilhões no fim do trimestre, avanço de 8,9% em relação a dezembro e de 18,9% em 12 meses. Em março, quando a crise se intensificou, a originação de crédito para o atacado dobrou em relação ao mês anterior.

A inadimplência ficou em 3,1% no fim do primeiro trimestre, alta de 0,1 ponto ante dezembro e de 0,1 ponto ante março de 2019.

A margem financeira total somou R$ 17,805 bilhões, queda de 8,4% em relação ao quarto trimestre e alta de 0,8% quando comparada aos três primeiros meses do ano passado.

A decisão de elevar as provisões fez o Itaú deixar de ser o grande banco com maior retorno sobre o patrimônio líquido. O indicador recuou para 12,8% nos três primeiros meses do ano, ante 23,7% no quarto trimestre e 23,6% no primeiro trimestre de 2019. A instituição foi superada pelo Santander, com 22,3%.

O Itaú também decidiu suspender suas projeções para este ano devido à falta de clareza sobre a duração e profundidade da crise. “Em razão da incerteza sobre o real impacto da crise de saúde na economia, tomamos a decisão de suspender as projeções para o ano de 2020”, afirmou Milton Maluhy, vice-presidente executivo, em nota.

Os bancos têm sinalizado que esperam uma forte alta da inadimplência de pessoas físicas e empresas nos próximos trimestres, diante da paralisação das atividades, que levará a um provável aumento do desemprego.

Um ponto em comum entre as instituições financeiras foi a manutenção das despesas operacionais sob controle. No caso do Bradesco e do Itaú, houve corte nominal de gastos. No Santander, as despesas subiram em linha com a inflação.

Fonte: Blog Cidadania & Cultura – Fernando Nogueira da Costa. Professor Titular do IE-UNICAMP

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