“Quando o ser humano se transforma em uma empresa”, por Stefan Willian

Liguei a televisão e estava passando uma entrevista de Marília Gabriela com uma garota de programa. Uma declaração da entrevistada me chamou a atenção. Ela afirmou: “Hoje sou uma empresa”. Em tempos de Marketing Pessoal não é estranho que profissionais das mais diversas áreas se transformem em pessoas jurídicas. Cabe uma reflexão: empresas não têm sentimento, visam o lucro e possuem um olhar cada vez mais macro e voltado às mudanças de mercado.  Quando o ser humano se transforma em uma empresa ele absorve grande parte dessas características. Perde sua humanidade e sua originalidade. É um graveto que balança de acordo com o soprar do vento.

As cifras podem ser como ervas daninhas. Neste caminho tortuoso de sobrevivência é tarefa importante não deixar os valores para trás.  A essência não é comercial. Nem tudo se compra, nem tudo está à venda.  Rubem Alves dizia: “Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa”.

Há crianças que perdem a infância satisfazendo a vontade dos pais de serem famosos e estarem em evidência em algum veículo midiático. Simplesmente para serem exibidos como troféus para a sociedade. Não sou contra àqueles que sabem dosar e propiciam aos filhos momentos de lazer, de serem de fato crianças. Mas, sou contra pais que tiram a infância dos filhos e que se beneficiam com isto a qualquer custo. Mesmo que jurem que não têm esta intenção.

Sou contra alunos que se posicionam como clientes e chegam ao ápice da falta de bom senso ao dizer para o professor. “Estou pagando, pago o seu salário”. Graças a Deus nunca aconteceu comigo. No ambiente educacional não deve haver esta premissa. O conhecimento não se adquire com um cheque e sim com estudo e reflexão. Segundo o professor e filósofo Clóvis de Barros Filho, hoje o ato de pedir para o aluno ler é recebido com olhares de estranhamento. Clóvis fala sobre as “escolas de playboy” que existem. O “aluno playboy” é aquele que se mandá-lo ler, se sente ofendido e pode até reclamar do professor com a direção. E não se espantem se este professor ser punido ou até mesmo demitido. Em um país onde os valores são invertidos isto pode perfeitamente acontecer.

Jovens também estão se transformando em empresas fitness no Instagram. Agora os likes também representam money. Até quando surgir alguém mais bonito e mais curtido. Não esqueçam do prazo de validade que é implacável. É bom lembrar que os patrocinadores não esquecem jamais.

E nesta metamorfose ambulante caminha a humanidade. A linha é tênue em ser uma pessoa, uma empresa ou até mesmo um produto. Uma afirmação cruel? Nem tanto. Depende da perspectiva.

Stefan Willian é jornalista, professor e escreve no blog prosafilosoficadehoje.blogspot.com.br

Fonte: Jornal Voz Ativa

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