Quando vamos agir para resgatar nossa integridade?

Não vamos fazer nada? Só ficar aqui na rede so­cial, las­ti­mando, cri­ti­cando, lam­bendo as fe­ridas, com­par­ti­lhando dis­cursos avil­tantes? As­sis­tindo aos bra­si­leiros que aplaudem bo­ça­li­dades como se elas fossem ma­ni­fes­ta­ções de “es­pon­ta­nei­dade”? Pa­la­vrões como se fossem nor­mais saídos boca de um pre­si­dente da Re­pú­blica? E as­sistir o pavão se re­go­zijar en­quanto o país se des­mancha? Ele está se di­ver­tindo, basta ver como cortou o ca­belo, a la Hi­tler, para de­bo­char do povo. De­bocha das ins­ti­tui­ções e ci­en­tistas como se fossem seus es­cravos. O so­be­rano ne­pó­tico e sua prole sem for­mação. Des­culpe, es­queci, um deles já fritou ham­búr­guer e se acha apto a ser em­bai­xador.

Vamos en­tregar a Amazônia e as ri­quezas mi­ne­rais para os EUA? E as terras in­dí­genas e uni­dades de con­ser­vação? E nossas con­quistas desde a Pri­ma­vera Si­len­ciosa de Ra­chel Carson, de 1962?

O Brasil é quase a maior su­cata de in­fra­es­tru­tura do mundo. Não que isso seja culpa só desse go­verno inepto, mas ele está co­lo­cando a pá de cal. Nada está sendo feito para re­verter. E nós não temos ver­gonha na cara. Fi­camos as­sis­tindo hor­ro­ri­zados a essa mais re­cente série de horror que deve passar, no fu­turo, na Net­flix.

A mes­mice é chata? Pois pa­rece que aqui não é. Todo dia ele “faz tudo sempre igual”, nos expõe à ver­gonha para atrair seus se­gui­dores. Já estou vendo o dia que vão ape­drejar am­bi­en­ta­listas na rua. Olhe nos olhos dele quando está dando uma en­tre­vista, ele pa­rece ter or­gasmos quando ob­serva o as­sombro dos jor­na­listas a uma res­posta he­di­onda.

“Eu sou o pre­si­dente”! “Eu não peço, eu mando” É isso aí, Johnny Bravo, você é um pre­si­dente des­lum­brado, ta­canho, pro­ta­go­ni­zando di­a­ri­a­mente uma ópera bufa. E nós, os ainda mi­ni­ma­mente sau­dá­veis, à beira de um ataque de nervos, es­tamos ten­tando en­tender como foi que um ser tão as­que­roso con­se­guiu ser eleito pre­si­dente e, ainda, ser aplau­dido de­pois de dizer “porra, eu ga­nhei, porra” em rede na­ci­onal.

Não dá mais para ficar nessa ina­nição. Temos três po­deres na Re­pú­blica. Um está com­ple­ta­mente es­fa­ce­lado. E os ou­tros dois? Devem estar gos­tando, pois a ma­mata con­tinua como sempre. Di­nheiro compra tudo na­quele con­gresso (com letra mi­nús­cula mesmo). O ju­di­ciário está as­sis­tindo de ca­ma­rote e com mor­do­mias. E nós?

Bol­so­naro já não disse bes­teiras de­mais? Já não ofendeu pes­soas de­mais? Já não des­pejou im­pro­pé­rios de­mais? Já não vi­olou a li­turgia do cargo? Já não foi su­fi­ci­en­te­mente gro­tesco com edu­ca­dores, es­tu­dantes, ar­tistas, jor­na­listas, in­dí­genas, nor­des­tinos, am­bi­en­ta­listas, ci­en­tistas, pes­qui­sa­dores, es­pe­ci­a­listas, qui­lom­bolas, mu­lheres, LGBTs, fun­ci­o­ná­rios pú­blicos?

Já não há mo­tivos mais que su­fi­ci­entes para uma in­ter­dição ou im­pe­a­ch­ment?

 

Telma Monteiro – Ativista sócio-ambieltal, pesquisadora e educadora

Fonte: Correio da Cidadania

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