Presidente do BNDES era do comitê da SR Rating, que não identificou riscos.
Relatório da Operação Pausare, obtido pela Folha, diz que o fundo não recuperou nenhum centavo dos R$ 109 milhões aplicados em CCIs (cédulas de crédito imobiliário) emitidas pela Mudar Master II Participações, entre 2010 e 2011. Para fazer essa aplicação, o Postalis considerou pareceres produzidos pela empresa de classificação de risco SR Rating, que pertence ao executivo.
Rabello e três outros dirigentes eram os integrantes do comitê responsável pela avaliação dos investimentos.
“Nenhuma parcela de juros ou amortização dos títulos foi honrada. As empresas investidas [que receberam investimento] não fizeram nenhum pagamento ao Postalis, tendo todo o dinheiro do fundo de pensão simplesmente desaparecido. O total fracasso dos investimentos é o principal indicativo da ocorrência de fraude na avaliação dos papéis”, escreveram o procurador da República Ivan Marx e o delegado Luiz Flávio Zampronha.
O propósito da investigação, segundo o relatório, é aprofundar a apuração do envolvimento de Rabello e outros profissionais no “esquema criminoso” identificado.
Rabello foi um dos alvos da Pausare, deflagrada pelo MPF (Ministério Público Federal) e pela Polícia Federal na quinta (1º). Houve apreensão de documentos na casa dele, que também teve os sigilos bancário e fiscal quebrados.
O valor investido pelo Postalis nas CCIs seria aplicado em empreendimentos imobiliários de outras empresas do mesmo grupo responsável pela emissão das cédulas. Pagariam a dívida ao fundo com a receita desses projetos, mas ficaram inadimplentes.
A suspeita da PF e do MPF é que as obras nunca saíram do papel, tendo sido criadas “apenas com o objetivo de facilitar o desvio de recursos”.
As cédulas emitidas pela Mudar estavam lastreadas em debêntures (títulos de dívida) lançadas por empresas do mesmo grupo. Os investigadores afirmam que esses títulos não existiam e que não havia garantias reais para o investimento do Postalis.
A SR Rating deu nota “brA” para as debêntures e cédulas de crédito (satisfatória ou boa, no âmbito local e no prazo analisado).
O MPF diz que as análises são repletas de elogios à Mudar, mas carentes de informações técnicas. Segundo os investigadores, não descreviam os nomes e o papel das empresas do grupo que estavam envolvidas em cada uma das emissões de CCIs. Faziam somente “breves menções” às obras de destino dos recursos. Também não constava detalhamento sobre as reais garantias das operações.
A Mudar é do grupo do empresário Augusto Martinez Almeida, também alvo da Pausare. Foi criada em 2004, com foco em construção e venda de casas e apartamentos. Conforme a PF, a partir de 2009 –antes dos negócios com o Postalis–, a empresa deixou de entregar imóveis.
Em setembro de 2010, a SR atribuiu nota “brA” para debêntures da Mudar SPE Master Empreendimento Imobiliário, empresa do grupo que havia sido constituída só um mês antes. Para os investigadores, isso demonstra “má-fé” ou “participação voluntária” da empresa nas fraudes.
Fonte: Folha.com
