Sem Dilma e com Temer, o que o trabalhador deve esperar do novo governo em 180 dias?

Promessa de recuperação da economia é ponto de consenso entre novo presidente e interesse da classe trabalhadora; problema está no modo como Michel Temer acredita que poderá atingir esse objetivo; reforma dura na Previdência Social, restrição dos programas sociais e privatizações fazem parte da fórmula para gerar pelo menos 100 mil novos empregos até o final do ano; vai dar certo?; trabalhadores e seus representantes têm obrigação de dobrar vigilância sobre nova gestãoPessoas com as mãos pra cima

Os trabalhadores e os sindicatos têm a missão de redobrar a vigilância sobre o novo governo. Especialmente, nos próximos 180 dias, período limite para a definição do impeachment de Dilma Rousseff.

É um consenso apontar na bandeira de retomada do crescimento, hasteada pelo novo presidente Michel Temer no tempo em que esperou a definição do afastamento da presidente Dilma Rousseff, um poderoso ponto de unidade entre a gestão que ele inicia nesta quinta-feira 12 e o que necessitam os que trabalham e os 11 milhões que perderam suas vagas nos últimos meses.

Os meios pelos quais Temer acredita que vá atingir sua meta – um saldo de 100 mil novos empregos até o final do ano – é que são elas.

No que têm deixado vazar à mídia, é certo que o novo presidente já optou por uma agenda ortodoxa, para não dizer regressiva. O estabelecimento do Ministério da Fazenda e Previdência, que será chefiado por Henrique Meirelles, demonstra que, a partir de agora, terá curso uma reforma dura no sistema de aposentadorias. Os benefícios, de um lado, perderão o vínculo com o salário mínimo. De outro, a idade mínima para se atingir a aposentadoria subirá para 65 anos, tanto para homens como para mulheres. Há muito disse-me-disse sobre corte em direitos trabalhistas e mudanças na CLT.

Um refresco parece estar no fato de que a nova regra de idade passará a valer apenas para os trabalhadores que ingressarem no mercado de trabalho a partir da mudança na legislação. Isso será suficiente para que o movimento sindical aceite a proposta em troca da criação de empregos, conforme promessa de Temer?

Não há resposta fácil. Para influenciar, como é seu papel, o novo governo, os sindicatos terão de superar a dicotomia estabelecida de “legalidade” ou “golpe” na queda de Dilma e ascensão de Temer.

Há um dado de realidade: o Palácio do Planalto, com todo o seu poder de gestão sobre o País, tem, goste-se ou não, um novo ocupante. Serão Michel Temer e seus ministros – e, de novo, goste-se ou não deles – que irão tocar a máquina e fazer as propostas legislativas ao Congresso onde, de resto, já demonstraram ter folgada maioria.

Negar e renegar o governo Temer não parece ser, a princípio, uma boa atitude para os trabalhadores. Afinal, apostar no quanto pior, melhor, é dar tiro no pé, pois numa conjuntura desse tipo quem sai perdendo mesmo são os próprios trabalhadores.

Apoio incondicional, no entanto, não coaduna com a trajetória do movimento sindical. Como sempre será preciso articular luta e negociação pois a hora é de muitas incertezas e, admita-se, algumas esperanças.

O melhor a fazer, o mais prudente e o mais eficaz a fazer, na superação da recessão e pela geração de empregos – que é o que de fato interessa à classe trabalhadora – é marcar de perto cada gesto, cada ato do novo governo. Vigiar e influenciar. Pressionar e dialogar.

No atual cenário enevoado, que somente as medidas concretas poderão aclarar, essa parece ser a postura mais correta a adotar: temperar aguerrimento com prudência. O que está em jogo é muito mais complexo do que um sim ou um não ao novo quadro político-administrativo.

Fonte: Brasil 2 pontos

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